sexta-feira, 17 de agosto de 2012

Eis o trecho final da carta que Pero Vaz de Caminha enviou a Dom Manuel

Esta terra, Senhor, parece-me que, da ponta que mais contra o sul vimos, até à outra ponta que contra o norte vem, de que nós deste porto houvemos vista, será tamanha que haverá nela bem vinte ou vinte e cinco léguas de costa.

Traz ao longo do mar em algumas partes grandes barreiras, umas vermelhas, e outras brancas; e a terra de cima toda chã e muito cheia de grandes arvoredos. De ponta a ponta é toda praia... muito chã e muito formosa. Pelo sertão nos pareceu, vista do mar, muito grande; porque a estender olhos, não podíamos ver senão terra e arvoredos -- terra que nos parecia muito extensa.

Até agora não pudemos saber se há ouro ou prata nela, ou outra coisa de metal, ou ferro; nem lha vimos. Contudo a terra em si é de muito bons ares frescos e temperados como os de Entre-Douro-e-Minho, porque neste tempo d'agora assim os achávamos como os de lá. Águas são muitas; infinitas. Em tal maneira é graciosa que, querendo-a aproveitar, dar-se-á nela tudo; por causa das águas que tem!

Contudo, o melhor fruto que dela se pode tirar parece-me que será salvar esta gente. E esta deve ser a principal semente que Vossa Alteza em ela deve lançar. E que não houvesse mais do que ter Vossa Alteza aqui esta pousada para essa navegação de Calicute bastava. Quanto mais, disposição para se nela cumprir e fazer o que Vossa Alteza tanto deseja, a saber, acrescentamento da nossa fé!


quinta-feira, 16 de agosto de 2012



Pero Vaz de Caminha nasceu em 1450, 
prestou alguns serviços à coroa portuguesa e em 1500 compôs a frota dirigida 
por Pedro Álvares Cabral. Na qualidade de escrivão desta referida frota, coube 
a ele redigir uma carta ao rei Dom. Manuel I comunicando-lhe sobre o 
"achamento" da terra brasileira. 

Neste sentido Caminha inicia seu texto, 
contando-nos como fora sua viagem. A Partida se deu no dia nove de março de 
1500, na manhã do dia 14 estavam entre as ilhas Canárias e no dia 22 na altura 
de Cabo Verde. No dia 23, o autor nos conta sobre o único acidente da 
empreitada, quando uma nau se perde sem nenhuma justificativa aparente para 
isso. Com um navio a menos a viagem prossegue. No dia 21 de abril, terça feira 
de páscoa, reconhecem-se sinais de terra. No dia seguinte avistam um monte e 
logo em seguida terra! Caminha nos conta que o capitão nomeou a terra como
?Terra de Vera Cruz? o monte, em virtude da proximidade da Páscoa, como ?Monte 
Pascual?. Dia 23, navegaram para a dita terra. Neste momento se deu o primeiro 
contato entre nativos e portugueses. 
Eles não se entenderam e limitaram-se a trocar presentes. 

Pero Vaz de Caminha faz então, uma 
atenciosa analise destes nativos, destacando os fatos que lhe chama a atenção, 
como a beleza, a nudez e a inocência destes homens. Estes mesmos comentários, 
sobretudo a respeito da nudez, serão repetidos diversas vezes ao longo da 
carta. Caminha também fala várias vezes da necessidade de catequizar estes 
homens, que ele julga ser puro e pronto para receber a fé católica. Ele 
acredita que os nativos não têm nenhuma outra crença. No dia 24, os navios 
menores entram em um abrigo natural, fazendo-o de porto. Cabral o chama de 
?Porto Seguro?. É neste dia ainda que ocorre um dos fatos mais conhecidos do
descobrimento: Um casal indígena é convidado a subir a nau portuguesa e lá 
chegando, apontam em direção a um colar de ouro e a um castiçal de prata, 
apontando em seguida a terra. Esses movimentos foram interpretados por Caminha 
como sendo indicativo da presença de ouro e prata naquela terra. 

No dia seguinte os demais navios também 

entram no Porto Seguro e no dia 26, sendo domingo de Páscoa, ocorre a primeira 
missa. Esta missa foi assistida por todos os integrantes da frota portuguesa e 
pelos índios da região. Nos quatro dias posteriores os marinheiros ajudados 
pelos nativos preparam os navios para seguir viagem. Paralelamente, uma cruz de 
madeira foi feita pelos carpinteiros da frota, fato este que muito atraiu a 
curiosidade dos índios, segundo caminha mais pelos instrumentos de ferro usados 
(desconhecidos para os nativos), que pela cruz em si. 

No 
dia 1º é celebrada uma segunda missa. Desta vez, além da missa foi colocado
junto a uma árvore a tal cruz de madeira. Os portugueses, a mando de Cabral, se 
ajoelham e beijaram a cruz. Com isso queriam mostrar aos índios a dedicação e 
submissão que tinham para com aquele ícone da religião católica. No dia 
seguinte partiram, deixando pra trás, além da cruz, dois homens condenados à 
morte com a missão de entender as línguas e costumes daquela região. Caminha 
encerra seu discurso fazendo um apelo pessoal ao rei, para que ele interceda 
junto a seu genro, Jorge de Osório, que se encontrava preso na ilha de São Tomé. 


A carta de Pero Vaz de Caminha é de um valor 
histórico incalculável! É com ela que hoje podemos saber uma série de elementos 
sobre a situação do Brasil a época do descobrimento, como é o caso do 
comportamento dos índios. A simpatia inegável que Caminha revela pelos 
primeiros habitantes de nossa terra permite-nos vê-lo como um exemplo do 
humanista da época, intelectualmente curioso e tolerante com os costumes 
diferentes dos seus. Seu senso de observação e sua capacidade de narrar também 
não são menos digno de elogios. Caminha é tão honesto na observação dos fatos, 
que relata na carta, as dúvidas que porventura tenha tido. Enfim é um texto de 
imprescindível leitura para aqueleque queira entender o descobrimento do 
Brasil.




terça-feira, 14 de agosto de 2012



Nesse trecho de sua carta, Pero Vaz de Caminha, o escrivão da frota de Cabral, fez o primeiro registro de troca no Brasil: barrete e carapuça do navegante por colar e cocar do indígena. As trocas foram muito comuns no começo de nossa colonização, pois os índios não conheciam o dinheiro.
Desse ato simples até hoje, muita coisa aconteceu. Os portugueses começaram a plantar, explorar minas, criar gado, comerciar. O comércio trouxe a necessidade do dinheiro. Nos primeiros tempos, eram moedas de ouro, prata e cobre, vindas de Portugal. Aos poucos, nossas moedas passaram a ser cunhadas no Brasil.